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Nutrição e Vida

Antropometria

Antropometria

As medidas antropométricas desenvolvidas para avaliar crianças desnutridas na África (1) são  também usadas para se avaliar o estado nutricional de adultos. As mais comuns são peso, altura, índice de massa corporal, pregas cutâneas tricipital e subescapular, além das circunferências musculares.

Mais recentemente, a circunferência da panturrilha tem sido também mensurada, em especial como dado importante para avaliar idosos.

Peso

A perda de peso involuntária tem sido associada com estado nutricional deficiente, morbidez e mortalidade aumentadas. A perda superior a 10% do peso usual sugere desnutrição e está associada com alta morbidez e mortalidade (2). Já a perda de mais de 1/3 do peso usual está relacionada com morte eminente (3).

No entanto, nem sempre é possível determinar-se a perda de peso de maneira exata. Morgan et al. (4) mostraram que a acurácia de se avaliar a perda de peso por meio da anamnese foi de 0,67 e que o poder preditivo foi de  0,75. Estes dados indicam que 33% daqueles pacientes que tinham perdido peso não foram identificados e que 25% dos que  estavam  estáveis foram diagnosticados como tendo perdido peso. Assim, a informação sobre a perda de peso isoladamente  poderá não ter significado nutricional, uma vez que sofre a influência de enorme variedade de fatores de confusão.

Essencialmente, o conhecimento por parte do paciente do peso habitual prévio e as alterações da composição hídrica corporal são os fatores de confusão mais comuns.

A relação entre peso e altura, determina o Índice de Massa Corporal – IMC (peso/altura2), também chamado de Índice de Quetelet. A faixa situada entre 18 kg/m2 e 25 kg/m2  é considerada adequada e, segura no tocante ao risco de desenvolvimento de doenças associadas ao estado nutricional.

O IMC entre 14 e 15 kg/m2 prediz taxa de mortalidade alta, contudo o IMC é parâmetro muito pobre para determinar o estado nutricional, em particular, num mundo contemporâneo em que sobrepeso e obesidade são altamente prevalentes (5).

Pregas cutâneas

Usando-se um paquímetro, dos quais o de Lange ou de Harpender são os mais indicados, medem-se as pregas cutâneas, com a pretensão de se determinar a porcentagem de gordura corporal (6).

Como a tela subcutânea representa, aproximadamente, 50 % das reservas de gordura do organismo, a medida das pregas é parâmetro razoável da quantidade de  gordura corporal total. O percentil abaixo de 10 é considerado de risco para deficiência nutricional.  

A técnica é fácil e de baixo custo. A maior  crítica é a grande variabilidade, de acordo com quem as executa e como o faz. Salienta-se a importância de ser realizada por pessoa bem treinada.

Outras críticas estão associadas à determinação do compartimento corporal de forma isolada como diagnóstico nutricional, uma vez que  o efeito das doenças é determinado por função tecidual. Ou seja, estas medidas podem representar boa avaliação de indivíduos sadios, mas não em doentes.

Circunferências

A medida da circunferência do braço,  realizada com fita métrica maleável não extensível, quando usada  em conjunto com a medida da prega cutânea tricipital (fórmula) provê o valor da circunferência muscular do braço e da área muscular. Também, por aproximação, essas iniciam o conteúdo da massa magra corporal.

Considerando que a musculatura esquelética representa 60% do conteúdo total de proteína corporal,  e sendo esta usada como principal fonte fornecedora de aminoácidos em períodos de estresse e jejum, essa medida parece atraente.

Considera-se  significante o valor abaixo do percentil 10 de uma única medida de área muscular do braço ou, então, da medida da circunferência abaixo do percentil cinco. 

A circunferência da panturrilha tem atualmente sido bastante usada e parece ser mais sensível em detectar variações de massa muscular em idosos (7).  

Alguns aspectos a serem considerados

Além das dificuldades já salientadas sobre as pregas e circunferências, a comparação dos dados mensurados é feita com tabelas de percentis desenvolvidas a partir de estudos populacionais.

Isso pode impactar no diagnóstico ao classificar um indivíduo de maneira errônea caso este se encontre fora do padrão esperado, apenas por apresentar um biótipo diferente.  Ademais, as duas tabelas mais comumente usadas são as de Jellife (1)  e Frisancho (6), ambas  questionáveis em relação ao método  usado na confecção. Jellife  confeccionou as suas tabelas ao medir grupo de homens norte-americanos em serviço militar na Grécia e mulheres americanas de baixo poder aquisitivo. Por outro lado, Frisancho usou dados de mulheres e homens brancos que participarem no Inquérito Americano de Saúde entre 1971 e 1974.

De acordo com Thuluvaht e Triger (8) que usaram essas tabelas, entre 20 e 30% de indivíduos saudáveis foram considerados desnutridos.

Outro fator que interfere significativamente nas medidas antropométricas é a presença de edema e, por tal, é essencial que o avaliador saiba identificar esta variável.

A despeito de todas as desvantagens destacadas, os dados antropométricos são de fácil mensuração, de baixo custo  e podem auxiliar não só no diagnóstico inicial, mas principalmente no seguimento dos pacientes, desde que realizados com adequada técnica.

Referências

  1. Jelliffe DB. The assessment of the nutritional status of the community (with special reference to field surveys in developing regions of the world). Monogr Ser World Health Organ. 1966;53:3-271.
  2. Mauricio SF, Ribeiro HS, Correia MI. Nutritional Status Parameters as Risk Factors for Mortality in Cancer Patients. Nutr Cancer. 2016;68(6):949-57.
  3. Altun G, Akansu B, Altun BU, Azmak D, Yilmaz A. Deaths due to hunger strike: post-mortem findings. Forensic Sci Int. 2004;146(1):35-8.
  4. Morgan DB, Hill GL, Burkinshaw L. The assessment of weight loss from a single measurement of body weight: the problems and limitations. Am J Clin Nutr. 1980;33(10):2101-5.
  5. Gonzalez MC, Correia M, Heymsfield SB. A requiem for BMI in the clinical setting. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2017;20(5):314-21.
  6. Frisancho AR. New norms of upper limb fat and muscle areas for assessment of nutritional status. Am J Clin Nutr. 1981;34(11):2540-5.
  7. Santos LP, Gonzalez MC, Orlandi SP, Bielemann RM, Barbosa-Silva TG, Heymsfield SB. New Prediction Equations to Estimate Appendicular Skeletal Muscle Mass Using Calf Circumference: Results From NHANES 1999-2006. JPEN J Parenter Enteral Nutr. 2019;43(8):998-1007.
  8. Thuluvath PJ, Triger DR. How valid are our reference standards of nutrition? Nutrition. 1995;11(6):731-3.

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