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Nutrição e Vida

Dinamometria: vantagens e desvantagens

Dinamometria: vantagens e desvantagens 

                A dinamometria é o teste realizado para se avaliar a força de preensão palmar ou manual, utilizando-se um dinamômetro. Este teste é frequentemente utilizado na prática clínica como uma medida de avaliação de função dos membros superiores, uma vez que a força é um de seus componentes. A avaliação da função é um dos componentes da avaliação nutricional, da sarcopenia e da caquexia, e por isto, este método tem se tornado cada vez mais difundido.

             Outro aspecto importante é o lugar de destaque que a avaliação da força ganhou dentro da avaliação da sarcopenia. Tendo em vista as dificuldades técnicas de avaliação da massa muscular adequadamente, ou pela falta de associação da massa muscular (geralmente avaliada pelo DXA) com os desfechos funcionais em idosos, a baixa força muscular passou a ser o parâmetro principal na definição de sarcopenia, sendo que a presença de baixa força muscular já acaba definindo a situação de provável sarcopenia.1

                 Sendo assim, o uso da dinamometria vem sendo cada vez mais incorporado em protocolos de avaliação de pacientes em diversas situações clínicas, não apenas em idosos ou pacientes com câncer. Sua utilização deixou de ser exclusiva de alguns profissionais, como os fisioterapeutas, e passou a fazer parte dos instrumentos essenciais de qualquer profissional da saúde, seja no hospital ou em consultórios. Para melhor utilizá-la, é importante temos conhecimento de suas vantagens e desvantagens.

Vantagens da dinamometria

                A dinamometria, quando comparado com outros testes funcionais, é bastante simples de ser realizada, sendo possível a sua execução em vários ambientes, seja ambulatorial, ou hospitalar, à beira do leito, ou mesmo em estudos epidemiológicos. O aparelho é de fácil manuseio, sendo que o modelo digital necessita uma pouco mais de prática para seu uso. O protocolo para realização do exame é bastante simples, normalmente exigindo posicionamento adequado do paciente, a tomada de 3 medidas em cada braço, e a utilização da maior medida.2

                Outra vantagem da dinamometria é que a identificação da baixa massa muscular tem se mostrado associada com diversos desfechos adversos em idosos (depressão, função cognitiva, limitação de mobilidade, quedas, fatores osteoporóticos, multimorbidade), mas também com várias situações clínicas na população geral, tais como: depressão, ideação suicida, doença cardiovascular, diabetes e mortalidade. Sendo assim, a força de preensão palmar tem sido considerada um indicador útil de saúde geral.3

                Do ponto de vista prático, outra vantagem oferecida pela força avaliada pela dinamometria seria a existência de pontos de corte específicos para a nossa população. Seguindo a recomendação do uso de valores de pontos de corte vindos de uma população normativa regional,1, 4, 5 dispomos de pontos de corte oriundos da população jovem brasileira, sendo sugerido o uso de valores abaixo de 2 ou 2,5 desvios padrão abaixo da média específica por sexo.6

Desvantagens da dinamometria

                Apesar de apresentar inúmeras vantagens, existem também algumas críticas em relação à dinamometria. O primeiro deles seria a necessidade de total colaboração do paciente, sendo que o exame acaba não podendo ser realizado em muitos pacientes críticos e com nível de consciência alterada, ou baixa nível de compreensão.

                O custo do aparelho também é uma desvantagem: apesar de relativamente barato ($300) comparado com outros instrumentos utilizados na prática clínica, o aparelho tem custo bastante elevado no Brasil: a marca Jamar®, considerada a referência, tem custo entre R$ 3.000,00 a mais de R$ 5.000,00.

                Outra desvantagem seria que, apesar de ser um bom indicador de força/função de membros superiores, a dinamometria não deveria ser considerada um marcador de força muscular geral, e que outras medidas como a força de extensão do joelho deveria ser incluída para fornecer informação adicional na avaliação da força como um todo.7

                Além disto, a fraqueza identificada pela dinamometria pode ser resultado de alterações em qualquer um dos sistemas envolvidos na sua etiologia: o sistema muscular, mas também o sistema neurológico.7 Em muitas situações clínicas, fica difícil esta diferenciação. A medida pode ser difícil ou não exata em pacientes idosos com artrite ou mesmo muito debilitados, pois o próprio aparelho tem um peso de 1,5 kg e é necessária uma força mínima para fazer com que se acuse alguma medida. Outros pacientes também podem referir desconforto por causa da rigidez da manopla do aparelho, mesmo com o ajuste da mesma para uma posição mais confortável, o que poderia interferir na medida da força máxima.5

                Apesar de ser útil na avaliação da fraqueza associada à desnutrição e sarcopenia, os estudos têm resultados controversos em relação ao ganho de massa muscular e força avaliada pela dinamometria após intervenções nutricionais. Sendo assim, pode ser um parâmetro não muito fidedigno no acompanhamento de pacientes submetidos a intervenções nutricionais.

                Mesmo apresentando algumas desvantagens, sem dúvida nenhuma, a dinamometria é um método que passou a fazer parte do nosso arsenal na prática clínica. Seu uso correto, através de protocolos e pontos de corte adequados, pode ser um importante auxiliar na identificação do paciente com maior risco de desfechos adversos.               

Referências

  1. Cruz-Jentoft AJ, Bahat G, Bauer J, et al. Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis. Age Ageing 2019;48:16-31.
  2. Roberts HC, Denison HJ, Martin HJ, et al. A review of the measurement of grip strength in clinical and epidemiological studies: towards a standardised approach. Age Ageing 2011;40:423-9.
  3. Soysal P, Hurst C, Demurtas J, et al. Handgrip strength and health outcomes: Umbrella review of systematic reviews with meta-analyses of observational studies. J Sport Health Sci 2020.
  4. Dodds RM, Syddall HE, Cooper R, et al. Grip strength across the life course: normative data from twelve British studies. PLoS One 2014;9:e113637.
  5. Lee SH, Gong HS. Measurement and Interpretation of Handgrip Strength for Research on Sarcopenia and Osteoporosis. J Bone Metab 2020;27:85-96.
  6. Bielemann RM, Gigante DP, Horta BL. Birth weight, intrauterine growth restriction and nutritional status in childhood in relation to grip strength in adults: from the 1982 Pelotas (Brazil) birth cohort. Nutrition 2016;32:228-35.
  7. McGrath R, Johnson N, Klawitter L, et al. What are the association patterns between handgrip strength and adverse health conditions? A topical review. SAGE Open Med 2020;8:2050312120910358.

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