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Nutrição e Vida

Já se foram mais de 13 anos….mas o cenário poderia ser hoje!

A vida é um pião que rodopia e nos faz recordar  momentos inesquecíveis como o que vivi quando fui paraninfa da turma 116, há mais de 13 anos. E, nesse rodopiar do pião, eis que me reencontro com os meus afilhados via a modernidade do whatsapp. Ao me pedirem o discurso que proferi na data, fui buscá-lo nos milhares de arquivo deste computador e li-o de novo…eis aqui o texto tão atual, que no dia não li, mas sim conversei com meus meninos, pois havia  anotado as ideias na noite anterior e, essas estavam frescas na mente.

“……….Volto no tempo e me vejo no ambulatório Bias Fortes, no dia 8 de março deste ano, quando o meu telefone começa a tocar sem parar, com chamadas simultâneas e, do outro lado da linha as vozes eufóricas de alguns de vocês, que gritavam “Professora, professora, você é nossa paraninfa!”

Admito, custou para “cair a ficha” e, quando na realidade caí, descobri que era realmente a paraninfa desta turma maravilhosa. Ainda sem muito entender o que realmente estava por vivenciar, me dirigi, como caminhando nas nuvens, para o salão Nobre da Faculdade, onde vocês se encontravam reunidos. Vivenciei, nos minutos que se seguiram, um dos momentos mais fantásticos da minha vida, quando vocês me receberam com enorme carinho. Só quem estava lá pode dividir comigo a imensidão dos sentimentos e a enorme alegria que senti.

Obrigada pela honra que me deram e espero sinceramente ter retribuído e continuar a faze-lo, nessa enorme responsabilidade que é ser a madrinha de vocês.

Da minha parte, posso dizer-lhes que tenho vivenciado e curtido profundamente cada passo deste caminho até ao dia de hoje e espero continuar, sem me esquecer das obrigações que o “cargo” exige, ou seja: participei de festas e mais festas, churrascos………puxa, como já dancei, me diverti, comi, enfim, aproveitei a farra.

Além desses momentos de festa,  também já dividi com vocês minha interpretação sobre a nova vida, que a partir de agora vocês assumem, ao escrever  a mensagem do convite. Lá registrei minha teoria sobre a importância de serem grandes ouvidores da alma e do corpo. Logo, não vou repetir tudo de novo

E aí, que dizer para vocês e para todos que esperam o discurso da paraninfa?

Que certamente será curto…..pois numa cerimônia como esta, entendo que o que vocês querem mesmo é receber aquele canudinho que está por aí, em algum lugar….. querem comemorar, enfim fazer o que realmente merecem, pois a festa é de vocês!!!

Mas quero e, vou completar o que entendo como sendo parte da minha responsabilidade para com vocês, além daquela que foi ensinar-lhe algo de Medicina.

Inicio, usando as palavras do Prof. João Gabriel Marques Fonseca, proferidas na Terça-feira, na aula da Saudade (João me desculpe por usar suas frases para iniciar este discurso, mas é que com você sempre aprendo muito e me vejo refletindo sobre tudo). Assim disse o Prof. João Gabriel:

“A Medicina está tecnologicamente avançada; economicamente falida e humanamente frustrada!”

Então me pergunto que fazer para solucionar o impasse?

A tecnologia, sem dúvida alguma, é essencial pois representa a transformação do mundo e da vida… é o andar da carruagem, ou melhor dizendo da espaçonave!!!! É o progresso, é o futuro. Enfim, é a evolução do desconhecido….Sem tecnologia, a cura, ou até mesmo a paliação de muitas enfermidades e da dor não teria sido alcançada.

Guimarães Rosa, nosso grande escritor, médico, filho também desta Faculdade, talvez não tivesse abandonado a profissão, se tivesse podido vivenciar o desenvolvimento da anestesia e dos analgésicos que puderam minimizar a dor do parto e a dos pacientes com lepra, já que estas duas situações o impressionavam profundamente. Perdeu a Medicina, ganhou a Literatura. Paradoxos da vida e até ironia!

E digo ironia, pois vejam vocês que essa mesma tecnologia avançada, tem roubado da mulher o direito e até a vontade do parto natural. Hoje, no nosso país, se nasce muito mais por uma operação: a cesareana, do que naturalmente. Tecnologia sendo mal utilizada!!! E como este exemplo, tantos outros poderia citar. Obviamente, isto gera uma Medicina “economicamente falida”.

A falência do sistema de saúde não é culpa só do governo, dos convênios, das seguradoras. É nossa…..quando entramos na roda viva da prática médica e nos calamos contra os abusos da utilização da tecnologia, consentimos na imposição de regras sem bases científicas e acima de tudo, nos esquecemos que em 80% das vezes, ou até mesmo mais, o diagnóstico do doente é feito por anamnese bem feita, seguida por exame clínico adequado. Afinal, a clínica é soberana!

É preciso ter conhecimento, é preciso ter coragem para enfrentar a pressão de quem desconhece o que vocês aprenderam em seis anos de faculdade e irão aprender  na residência e na prática médica. O médico deve assumir um papel de educador, ainda que educar dê trabalho. Todos vocês já ouviram de muitos doentes  “sofro de pressão baixa”….muito bem, em vez de pedir aquele batalhão de exames que custam um horror, e vão falsamente justificar a visita do paciente, seria muito melhor gastar um tempinho mais e explicar algo sobre essa “tal” de pressão baixa.

Entendo, por outro lado, que a realidade de hoje, com o caminhar da indústria da saúde, demanda do médico que ele se defenda, principalmente perante a lei, quando o juiz de frente de um “causo” médico, pergunta “Mas senhor doutor, cadê os exames?”. Neste momento, é que as entidades de classe, Associação Médica, Conselho Federal e Sindicato dos Médicos deveriam estar unidas e gritar a uma só voz:  “não é bem assim, senhor juiz”.  Mas de novo, a tecnologia deixou “cegos” muitos de nós e ao contrário do que o jornalista e pensador Gilberto Dimenstein disse, esquecemo-nos que “o educador é  o aprendiz há mais tempo e educar é ensinar o encanto da possibilidade”.

Caminhamos então para a Medicina humanamente frustrada.

Como ser humano que é e não Deus, como alguns crêem, o médico tem sofrido a enorme angústia desencadeada pelo sem número afluxo de informações, pela demanda de utilizar a tecnologia em sua última versão e, pela crise econômica que  impede a ele e ao paciente de usufruírem a melhor Medicina possível.

Andamos frustrados…. de corpo e de alma!

Trabalhamos muito;

Ganhamos não tanto quanto desejamos;

Vivemos cansados pelas numerosas horas de plantão;

Faltam-nos recursos para fazermos o melhor que pensamos saber;

Não temos o respeito dos tempos de ontem e;

Ainda vivenciamos o medo do julgamento.

Triste carga em nossos ombros levamos, diriam!!!

Não, não é assim que vejo o futuro de vocês, meus queridos afilhados….Pois quem assim interpreta todos esses desafios está inerte….letárgico, ou seja a um passo da morte, logo a caminho da inexistência ….e não é o que vejo aqui à minha frente:

Um grupo enorme de jovens belos, cheios de alegria, com os olhinhos brilhando de felicidade e repletos de esperança!

Vocês são vida e como diria o Rubem Alves “O ato de viver é o ato de descobrir o passado no presente e o futuro no presente. O passado só é real quando tem lugar no presente. O futuro existe? Pode existir. Não sei como vai ser, mas pela fantasia ele se torna presente. E é justamente aí que surge a esperança!”

Vocês são a esperança: a minha e a de todos aqui presentes!

Caiam no mundo e ponham em prática o que sabem, sem medo. Vão tropeçar e errar, mas Shakespeare já dizia “As grandes quedas são o prelúdio das grandes ascensões e os grandes erros são o prelúdio, também, dos grandes acertos”.  Nós, os mestres estaremos, sempre aqui para aquela ajudinha…..pois afinal,  somos movidos pelo gosto de ensinar, desencadeado pelo motor do aprendizado: paixão e curiosidade! E estaremos aqui para dar força…sigam o que Cora Coralina escreveu:

“Andei pelos caminhos da vida.

Caminhei pelas ruas do Destino –

procurando meu signo.

Bati na porta da Fortuna,

mandou dizer que não podia atender.

Procurei a casa da Felicidade,

a vizinha da frente me informou

que ela tinha mudado

sem deixar novo endereço.

Procurei a morada da Fortaleza.

Ela me fez entrar: deu-me veste nova,

perfumou-me os cabelos,

fez-me beber de seu vinho.

Acertei meu caminho.”

Pois bem, acertem o caminho, sejam Humanos, menos tecnológicos, menos financistas e carreguem amor no coração para dar a ajuda, a quem na porta de vocês bateu…. esse ser igual a vocês: o Paciente!

E agora já terminando,  uso Clarice Lispector para desmistificar a idéia endeusada do médico que tem que saber tudo:

“Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo.”

Meus amores, estrelas da noite, batam asas, voem, vocês estão livres….vivam as metamorfoses, mas jamais se esqueçam “Carpe Diem”! E agora celebrem!

Muito, mas muito obrigada pela honra que me deram de ser a vossa Paraninfa!”

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