fbpx

Nutrição e Vida

Avaliação da composição corporal na infância e adolescência

As fases iniciais da vida são marcadas por transformações muito rápidas. Apesar do desenvolvimento do tecido adiposo, muscular e ósseo iniciar-se ainda durante a gestação, é principalmente durante a infância e adolescência que esses tecidos atingem o seu potencial de crescimento1–3. Diversos são os fatores que determinam a composição corporal em crianças e adolescentes, como práticas e hábitos alimentares, atividade física, genética e presença de doenças agudas e crônicas. No entanto, pode-se dizer que o início da puberdade tem um importante papel no desenvolvimento dos tecidos, contribuindo para o dimorfismo sexual na composição corporal4. Por exemplo, alterações no sistema endócrino levam a um rápido declínio da gordura corporal em meninos, porém aumentos graduais em meninas. Enquanto o pico de crescimento da massa muscular e óssea coincidem com o início da puberdade independentemente do sexo, meninos experienciam um repentino e acentuado ganho nestes componentes corporais comparado às meninas. Além disso, durante o crescimento e desenvolvimento, as crianças e adolescentes passam por um processo de maturação química, caracterizada por diminuição da água corporal total e hidratação do tecido muscular assim como do espaço extracelular5,6.

Importância

Em condições saudáveis, há uma tendência de que as crianças sigam um mesmo percentil em gráficos de crescimento até a adolescência7. Na verdade, o cruzamento de percentis pode indicar anormalidades no crescimento que devem ser investigadas. Considerando os diversos fatores contribuintes para o desenvolvimento dos tecidos corporal, a avaliação da composição corporal faz-se necessária para identificar o risco de baixa massa muscular e óssea assim como de obesidade. Especialmente em condições clínicas, existem evidências de que a perda da massa muscular está associada com uma maior duração de internação e número de complicações assim como menor velocidade de crescimento8–10. Desta forma, a avaliação da composição corporal pode também auxiliar na escolha e monitoramento de terapias nutricionais específicas.

Barreiras comuns

Existem diversas barreiras que ainda limitam a avaliação da composição corporal em crianças e adolescentes6. Por exemplo, alguns modelos de avaliação requerem que a massa livre de gordura tenha uma hidratação constante de 73%, o que nem sempre é atendido devido ao processo de maturação química. A violação desta condição afeta a validade das estimativas de composição corporal obtidas. Outras barreiras incluem controle limitado da alimentação, especialmente quando é necessário o jejum, e do comportamento da criança, como choro e agitação excessivos que podem causar artefatos de movimentação invalidando a avaliação. Cabe também ressaltar que existem obstáculos na utilização dos gráficos de crescimento7. Por exemplo, os percentis de gordura corporal e massa magra geralmente são apresentados por sexo e faixa etária, mas não de acordo com o estadiamento da puberdade. Por fim, não existe um método que pode ser utilizado isoladamente para a avaliação longitudinal da composição corporal desde o nascimento até a fase adulta devido às limitações específicas de cada técnica somadas às barreiras aqui discutidas6.

Métodos

A maioria dos métodos existentes para a avaliação da composição corporal podem ser também utilizados na população pediátrica, com exceção da pesagem hidrostática que requer uma grande cooperação do avaliado. Devido às diferenças nas dimensões corporais durante o crescimento, alguns métodos possuem adaptações no sistema do equipamento e também estruturais para acomodar crianças de diversas faixas etárias. Por exemplo, existem dois equipamentos de plestimografia aérea: um para neonatos com até 10 kg e outro para crianças acima de seis anos, mas que pode ser utilizado a partir dos dois anos de idade com o uso de cadeira customizada. Já para a absorciometria por dupla emissão de raios-x (DXA), foi criado um software específico com dados de referência para a população pediátrica e pesquisadores têm envolvido bebês em fraldas de tecido após a amamentação para limitar artefatos de movimentação durante o exame. Embora existam equipamentos de bioimpedância elétrica sendo vendidos como “próprios para criança”, é importante destacar que fatores como a obtenção de dados brutos (e.g., resistência, reatância) e disponibilidade de equações preditivas de composição corporal específicas para a população e o equipamento devem ser avaliados para a escolha do método.

Assim como na população adulta, o uso do ultrassom para avaliação do tecido adiposo subcutâneo e tecido muscular tem ganhado atenção também na população pediátrica por ser considerado um método seguro e rápido para a aquisição das medidas. Porém, estudos futuros precisam avaliar a validade do ultrassom comparado com métodos de imagens, como a ressonância magnética, em crianças e adolescentes. Outras técnicas de avaliação da composição corporal incluindo métodos de diluição e potássio corporal total têm demostrado excelente validade, porém reduzida viabilidade para utilização na população pediátrica fora do ambiente de pesquisa 6.

Dicas

            Para garantir que as crianças completem os exames de composição corporal com sucesso é importante que o ambiente de avaliação seja convidativo e aconchegante11. Caso possível, opte por utilizar uma decoração infantil e músicas tranquilizantes e que possam distrair as crianças. Os avaliadores devem explicar o exame para as crianças e pais, ou responsáveis, utilizando uma linguagem simples e de fácil compreensão. Durante o exame, reforços positivos são importantes para que a criança continue colaborando na realização do exame. Frases como “parabéns, você está indo muito bem”, “isso mesmo, continue assim sem se movimentar” podem ser úteis. É importante destacar que a privacidade das crianças e adolescentes deve ser mantida durante a avaliação da composição corporal.

Referências:

  1. Orsso CE, Colin-Ramirez E, Field CJ, Madsen KL, Prado CM, Haqq AM. Adipose tissue development and expansion from the womb to adolescence: An overview. Nutrients. 2020;12(9):2735. doi:10.3390/nu12092735
  2. Orsso CE, Tibaes JRB, Oliveira CLP, et al. Low muscle mass and strength in pediatrics patients: Why should we care? Clin Nutr. Published online 2019. doi:10.1016/j.clnu.2019.04.012
  3. Heaney R, Abrams S, Dawson-Hughes B, et al. Peak bone mass. Osteoporos Int. 2000;11:985-1009.
  4. Veldhuis JD, Roemmich JN, Richmond EJ, et al. Endocrine control of body composition in infancy, childhood, and puberty. Endocr Rev. 2005;26(1):114-146. doi:10.1210/er.2003-0038
  5. Wells JCK, Williams JE, Chomtho S, et al. Pediatric reference data for lean tissue properties: Density and hydration from age 5 to 20 y. Am J Clin Nutr. 2010;91(3):610-618. doi:10.3945/ajcn.2009.28428
  6. Gallagher D, Andres A, Fields DA, et al. Body Composition Measurements from Birth through 5 Years: Challenges, Gaps, and Existing & Emerging Technologies—A National Institutes of Health workshop. Obes Rev. 2020;21:e13033. doi:10.1111/obr.13033
  7. Wells JCK. Toward body composition reference data for infants, children, and adolescents. Adv Nutr. 2014;5(June):320S-329S. doi:10.3945/an.113.005371
  8. Rayar M, Webber CE, Nayiager T, Sala A, Barr RD. Sarcopenia in children with acute lymphoblastic leukemia. J Pediatr Hematol Oncol. 2013;35(2):98-102.
  9. Mager DR, Hager A, Ooi PH, Siminoski K, Gilmour SM, Yap JYK. Persistence of sarcopenia after pediatric liver transplantation is associated with poorer growth and recurrent hospital admissions. J Parenter Enter Nutr. 2019;43(2):271-280. doi:10.1002/jpen.1414
  10. Lara-Pompa NE, Hill S, Williams J, et al. Use of standardized body composition measurements and malnutrition screening tools to detect malnutrition risk and predict clinical outcomes in children with chronic conditions. Am J Clin Nutr. 2020;112(6):1456-1467. doi:10.1093/ajcn/nqaa142
  11. Guss CE, McAllister A, Gordon CM. DXA in children and adolescents. J Clin Densitom. 2020;24(1):28-35. doi:10.1016/j.jocd.2020.01.006

Clique no link abaixo para conhecer mais sobre o nosso curso

pt_BRPortuguese