Uso da absorciometria por dupla emissão de Raios X na avaliação da composição corporal

Absorciometria por dupla emissão de Raios X na avaliação da composição corporal

            A absorciometria por dupla emissão de Raios X (DXA) foi incorporado na prática clínica na década de 80, sendo considerado método padrão ouro para a avaliação da osteoporose. Hoje em dia, é considerado um dos métodos mais utilizados para avaliação da composição, devido à grande disponibilidade do equipamento em todo o mundo, pelo fato de ser não invasivo, e pela sua boa precisão para avaliação da composição corporal baseado no modelo tri-compartimental (gordura, tecidos moles magros e conteúdo mineral ósseo).¹

No entanto, é necessário compreender como este método avalia a composição corporal e seus compartimentos, para melhor entender suas indicações e limitações.

Princípios do método

O método tem por princípio a emissão de raios X com duas intensidades diferentes, que são emitidos e captados de acordo com a espessura, densidade e composição química dos tecidos. Os tecidos de maior densidade, como o tecido ósseo, vão bloquear a passagem dos raios X, enquanto os tecidos de baixa densidade, chamados de tecidos moles, vão permitir a passagem dos raios X. Posteriormente, os tecidos moles são diferenciados em tecidos moles e magros ou gordura. O exame é rápido, leva em torno de 15 minutos e é seguro, uma vez que tem uma baixa emissão de Raios X. No entanto, o método tem como desvantagens o fato de ser ainda de alto custo, não ser portátil e depender de técnico treinado para sua realização.

Avaliação da massa muscular pelo DXA

            Baseado na disponibilidade, acurácia, segurança e relativo baixo custo, alguns autores sugerem que o DXA seja considerado um método de referência para a avaliação da massa muscular,² além de ser recomendado pelos Consensos de Sarcopenia.^{3, 4}

            No entanto, a avaliação da massa muscular através desta metodologia tem algumas características que limitam seu uso principalmente em idosos.

            Diferentemente da tomografia computadorizada e da ressonância magnética onde a massa muscular é medida através da área transversal ou volume muscular, respectivamente, o DXA usa a medida dos tecidos moles e magros apendiculares (apendicular lean soft tissue – ALST) como um substituto da massa muscular, uma vez que 75% dos músculos estão presentes nos braços e pernas.

             O ALST seria a soma dos tecidos moles e magros dos braços e pernas, ou seja, após a exclusão da gordura e do osso e do usualmente denominado massa muscular ou músculo esquelético apendicular (appendicular skeletal muscle – ASM). Apesar da maior parte (~75%) do ALST ser constituído do músculo esquelético, ~25% é constituído de pele e tecido conectivo.⁵ Principalmente com o envelhecimento, este componente não muscular aumenta nos braços e nas pernas, fazendo que o componente muscular ALST seja menor que 75%. Sendo assim, a estimativa da massa muscular esquelética em idosos a partir da ALST possa ser superestimada.

           Esta superestimativa fica demonstrada com dissociação da perda de massa muscular e perda de função quando a massa muscular é avaliada pelo DXA, além da falta de associação com outros desfechos negativos encontradas na sarcopenia primária. Isto acabou levando a inclusão da avaliação da força e função para o diagnóstico da sarcopenia, além da perda da massa muscular deixar de ser o componente principal no seu rastreamento.⁴, além de sugestão controversa de não incluir a avaliação do DXA na definição de sarcopenia por um grupo de experts.⁶

            Outro fator que chama a atenção é que, numa revisão realizada para verificar a validade dos métodos de composição corporal em populações clínicas, ficou demonstrado que não existe nenhuma validação da avaliação da massa muscular realizada pelo DXA em populações clínicas, apenas validação para a massa de gordura.⁷

            Em virtude destes achados, devemos considerar o DXA como um bom método de composição corporal em adultos saudáveis por todas as suas vantagens apresentadas anteriormente. No entanto, quando utilizado para acompanhar mudanças na massa muscular, devemos nos lembrar que a sua mudança mínima significativa (o percentual de mudança nos tecidos moles e magros que pode ser identificada pelo DXA variou entre 3,85% a 19,4%. Sendo assim, o método não tem sensibilidade para detectar mudanças inferiores a 4%, o que pode limitar o intervalo entre os exames.

            Concluindo, o DXA é um método que vem ganhando muita popularidade como método de escolha em pesquisas, assim como na prática clínica. Entretanto, torna-se importante o conhecimento de suas limitações, para que seus resultados sejam interpretados adequadamente.

Referências

1. Plank LD. Dual-energy X-ray absorptiometry and body composition. Curr Opin Clin Nutr Metab Care. May 2005;8(3):305-309.
2. Buckinx F, Landi F, Cesari M, et al. Pitfalls in the measurement of muscle mass: a need for a reference standard. J Cachexia Sarcopenia Muscle. Apr 2018;9(2):269-278.
3. Chen LK, Woo J, Assantachai P, et al. Asian Working Group for Sarcopenia: 2019 Consensus Update on Sarcopenia Diagnosis and Treatment. J Am Med Dir Assoc. Mar 2020;21(3):300-307 e302.
4. Cruz-Jentoft AJ, Bahat G, Bauer J, et al. Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis. Age Ageing. Jan 1 2019;48(1):16-31.
5. Clark BC, Tavoian D, Goodpaster BH, Cawthon PM, Hansen RD, Manini TM. Comment on: “Pitfalls in the measurement of muscle mass: a need for a reference standard” by Buckinx et al. J Cachexia Sarcopenia Muscle. Dec 2018;9(7):1269-1271.
6. Bhasin S, Travison TG, Manini TM, et al. Sarcopenia Definition: The Position Statements of the Sarcopenia Definition and Outcomes Consortium. J Am Geriatr Soc. Jul 2020;68(7):1410-1418.
7. Sheean P, Gonzalez MC, Prado CM, McKeever L, Hall AM, Braunschweig CA. American Society for Parenteral and Enteral Nutrition Clinical Guidelines: The Validity of Body Composition Assessment in Clinical Populations. JPEN J Parenter Enteral Nutr. Jan 2020;44(1):12-43.